Essa coisa de
ficar sozinha, de sentir a solidão a fundo não é nenhuma novidade pra mim.
Depois do estouro que foi as nossas declarações de amor, o declínio seria o destino.
Não é que não acredite no sucesso promissor dos romances declarados, mas você
não foi tão convincente assim depois das primeiras desculpas esfarrapadas – já
esperava depois delas, não acreditar nas próximas.
Empresário publicitário,
quase trinta, escritor, descolado, independente, popular e eu dividia você com
os cigarros, as cervejas, seus negócios, seus acessos de criatividade e todos
os seus amigos igualmente alternativos e isso não era de todo mal, só não
conseguíamos ficar sozinhos em lugar algum da cidade, a não ser que nos escondêssemos,
era o que fazíamos. E nessas horas era bom, “amor adolescente aos quase trinta”,
era isso o que você sentia, pelo menos era o que dizia extasiado depois de
tanto correr e me beijar ao mesmo tempo, procurando lacunas nas ruas e bares da
cidade onde ninguém pudesse nos enxergar.
Mas uma hora
eu tive que procurar esses lugares sozinha, quando comecei a sair sem você e as
pessoas faziam a mesma pergunta, querendo descobrir onde estava.
Eu também
queria saber onde estava, mas ninguém sabia que eu não sabia.
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