quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Por fora

"Depois de tanto andar em círculos, dentro de mim mesma, resolvi parar. “Amor é um só” diz a minha avó, num telefonema rápido e que de nada me consola.

Mas acredito que há pessoas especiais a todo o momento e em todo lugar, pessoas que podem ser fascinantes ainda que cheias de defeitos e suspenses, e que a nossa história com um começo desastrosamente lindo, com um meio recheado de alegrias e com um final gradativamente falido, possa ser superada.

(...)
Não tinha muito o que fazer a não ser virar a página. Comecei por fora, pelo nosso apartamento, que a cada passo me faria lembrar você pelo resto da vida se nada eu fizesse. Os móveis tinham histórias pra contar de como chegaram ali, como as brigas sobre onde colocar o sofá vermelho de camurça ou em qual parede pendurar o quadro com pintura abstrata que você comprou de um homem na rua. Eu tirava os móveis do lugar, agora tudo em silêncio, de canto de boca saíam sorrisos mínimos junto com essas memórias, mas depois eu sentia o frio do chão nos meus pés descalços e tornava a lembrar de que tudo aquilo eram retalhos de um passado bom.

(...)
Mas amor é isso, nos deve revigorar quando começam e quando terminam, quando sai e a gente precisa trocar os móveis, trocar de roupa e ser feliz por fora enquanto nos restauramos e nos trocamos por dentro. Nada que dure pouco, mas também nada de fato impossível, quem sabe até amor seja mais que um e minha avó errou no recado."
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