quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cena - 1

A gente se reuniu com uns amigos seus, era o seu lugar. Todo mundo nos olhava sem entender a sintonia dos pequenos gestos, denotando uma intimidade anterior, ouvi falarem bem de você, me senti como se o conhecesse de fato. A tua mão que vez ou outra encontrava os meus quadris, a tua face que hora vinha de encontro ao meu pescoço, tua boca querendo segredar qualquer coisa sem importância no meu ouvido e guardava teu sorriso tímido e defensivo, nossas mãos que se anexavam e se largavam tão rapidamente, tudo tão fugaz. Mas fiz questão de acompanhar tua graça, teus comentários aleatórios enquanto nossos olhos cruzavam todas as mesas e pessoas do lugar até por fim se encontrarem. E de longe, quando você, não por vontade própria, me deixava na mesa e ia cumprimentar seus velhos-amigos-curiosos querendo saber quem eu era, quem era a garota da vez. Você insistia, sorria, acenava e se fazia, falava sobre mim com um atrativo peculiar que lhe cabe, o carisma. Acho que foi por ele que tão rapidamente me deixei levar pelo desenho da tua face, pelo teu cheiro que até agora pode ser encontrado na minha camisa xadrez preferida, pelo sabor da tua boca que ainda se encontra na minha, pela agressividade do teu olhar negro e infeliz, de outros amores que você ainda carrega no peito e que eu acredito que posso curar se você deixar. Senti compaixão pela tua história, tão confusa quanto a minha, talvez iguais em proporções de estragos do coração, me vi igual, te ouvi e me senti igual.
Essa história de "esse é um amigo de um amigo meu" e o mundo deu suas voltas, até que tivemos a oportunidade de trocar uma idéia, falar superficialidades, sorrir por qualquer coisa e te percebi na defensiva, enquanto eu (como sempre) me sentia segura e ansiosamente decidida a seguir em frente se você quisesse seguir em frente, mesmo estando por dentro com o coração transbordando dúvidas, arriscar não me faria pior, não naquela tarde.
Te vi pela primeira vez numa foto pela internet na rede social, entre amigos, no mesmo lugar onde te conheci e sei lá, foi como um reconhecimento, eu já sabia que a gente iria se esbarrar de verdade numa dessas esquinas das ruas da cidade. Não sei como e nem porque esse sentimento de "eu já te conheço" bateu, mas aconteceu e eu escondi enquanto pude, até de fato decidir ir ao teu encontro num dia despretensioso e feliz de um sábado qualquer. E em teus braços por fim entendi, o que me dava essa sensação de lembrança, de dejavú naquela rua escura e propícia a beijos de casais apressados, e na urgência das tuas mãos me buscando longe pra roubar um beijo, e no encontro das nossas bocas e na descoberta do teu cavanhaque e do gosto da tua boca na minha, na nossa troca de energia, na tua entrega sem defesas, entendi que eu de fato já o conhecia. Era isso o que acontecia, eu o conhecia.
Me largava e depois se empenhava em me deter, umas três vezes, depois eu fui. Você seguiu. Falei qualquer coisa do tipo como "a gente se fala", queria ter dito mais, ter demorado mais pra deixar você ir, mas éramos apenas mais um casal apressado, fazendo o mundo dar mais uma volta, à espreita para nos encontrarmos quando nossos caminhos virarem para o mesmo cruzamento de novo.

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22.09.2012

2 comentários:

  1. E às vezes não se cruzam de novo, né? Ou se cruzam em situações totalmente diferentes. Mundo estranho, de voltas incompletas, de amores fictícios, de tecnologia acima de amor. Eu hein, eu hein... =/

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    1. A vida é isso... Pessoas interessantes cruzando nossos caminhos de maneira rápida, até que alguém queira ficar pra sempre.

      Bjs João.
      Att

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